segunda-feira, 30 de abril de 2012

A Versão em Bronze do Homem

- Ah, não, tio! Mas eu estive pensando... por que o homem precisa morrer, afinal?
O inventor franziu o cenho.
- É assim que é, rapaz. Tudo morre, com exceção dos deuses.
- Mas por quê? – insistiu o garoto. – Se pudéssemos capturar a animus, a alma em outra forma... Bem, o senhor me falou sobre seus autômatos, tio. Touros, águias, dragões, cavalos de bronze. Por que não a versão em bronze do homem? 
- Não, meu garoto – replicou Dédalo asperamente. – Você é ingênuo. Tal feito é impossível.
- Eu não acho – insistiu Perdiz. – Com o uso de um pouco de magia...
- Magia? Ora!
- Sim, tio! Magia e mecânica, juntas... Com um pouco de trabalho seria possível criar um corpo que pareceria humano, só que melhor. Fiz algumas anotações.
(Percy Jackson – A Batalha do Labirinto)


            Este é apenas um trecho de um livro juvenil, mas nenhum outro texto poderia me fascinar mais. Em nenhum outro lugar poderia encontrar palavras que pudessem me motivar e exprimir meus desejos com tanta força. Afinal, o que é a tecnologia senão magia? A tecnologia é a única forma que temos para resolver nossos problemas. É o que nos faz tornar possível o impossível. Tecnologia é juntar coisas e criar efeitos transcendentais. É moldar o mundo à nossa volta de acordo com nossos modelos abstratos.
            Então o que eu espero com a tecnologia? O que eu estou disposto a alcançar? A versão em bronze do homem? Vencer a morte? Sim.
            Já discutimos nos posts anteriores o que poderemos alcançar com a genética e a nanotecnologia. Alterar nosso código-fonte, reescrever nossa engenharia. Substituir nossas células por nanorobôs mais eficazes, rápidos e específicos. Mas este é apenas o prelúdio do que está por vir.
            Ao fim da primeira metade do século XXI, chegaremos ao momento pelo qual mais anseio: o momento em que poderei vencer a morte.
            A minha consciência é um intrincado software rodando em um hardware chamado cérebro. Trilhões de conexões interneurais rodando paralelamente me permitem um refinado reconhecimento de padrões, uma sutileza de raciocínio que me permite ser autoconsciente e produzir conhecimento.
            A resolução do escaneamento cerebral dobra a cada ano atualmente. Estamos começando a obter as ferramentas suficientes para começar seriamente com a engenharia reversa dos princípios de operação do nosso cérebro. Já possuímos atualmente expressivos modelos e simulações de algumas poucas centenas de regiões cerebrais. Dentro de duas décadas, teremos um detalhado entendimento de como toda a nossa mente funciona. Com nosso poder computacional crescendo exponencialmente, teremos ambos, software e hardware, necessários para emular completamente a inteligência humana. Nossos computadores alcançarão um padrão indistinguível da nossa inteligência biológica na metade dos anos 2020. Teremos então a habilidade de combinar nossa formidável habilidade de reconhecimento de padrões e sutileza de raciocínio com a força dos computadores: a capacidade de lembrar bilhões de fatos precisamente e chamá-los instantaneamente. A capacidade de dominar uma habilidade e repeti-la com grande acurácia. Mais importante – as máquinas podem compartilhar seu conhecimento a velocidades extremamente altas.
            Mas afinal do que eu estou falando com essa fusão? Estou falando em alterar irremediavelmente a essência humana. Isto é o que eu quero. Me fundir com as máquinas e transformar irreversivelmente o que sou. Estou falando em expandir minhas capacidades. Substituir minhas lentas conexões interneurais baseadas em impulsos elétricos por circuitos digitais baseados em velocidades de escala nano. Não estou falando em me tornar um homem inteligente. Estou falando em superar e transcender tudo o que pode ser sequer imaginado pela humanidade. Estou falando em diluir minha parte biológica em uma forte inteligência artificial. Me tornar uma máquina capaz de se automelhorar, de se autoreparar. Uma máquina que assim como os computadores atuais cresça exponencialmente em poder de processamento. Esta é a versão do homem em bronze. Esta é a minha versão 2.0.
            Chegarei ao momento onde poderei reunir tudo o que compõe minha consciência: fatos, memórias, habilidades e poderei fazer o upload da minha consciência a um computador. Chegarei ao momento onde me tornarei capaz de viver indefinidamente. Finalmente poderei capturar a animus do homem, só que de uma outra forma assim como Perdiz sonhou.
            Estou absolutamente convicto de que este é o destino da humanidade porque este é o destino do universo: um caminho em direção à evolução da inteligência e da informação.      
            Este é o caminho inevitável. Estes são meus objetivos: eu quero vencer a morte, quero transcender toda a inteligência imaginável, quero trazer os mortos de volta. Impossível? Tudo o que hoje é óbvio foi um dia impossível até a tecnologia seguir seu rumo. Esta é a magia do universo.