terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Revolução GNR: Genética

Movida pela sua curiosidade, a humanidade sempre tentou prever como seria o seu destino. É bem verdade que muitas destas previsões se transformaram em simples devaneios ou poderiam soar hoje até mesmo como delírios. Mas isto não significa que não podemos estabelecer com certa segurança como determinados parâmetros irão se desenvolver. Temos hoje ferramentas de grande alcance na coleta de dados e informações. Podemos assim descrever o comportamento do avanço tecnológico de forma mais completa que nunca e fazer prognósticos efetivamente realistas.         
            Hoje podemos compreender a natureza exponencial da tecnologia. Assim, é possível descrever como serão essas tecnologias não em apenas 1 ou 2 anos. É possível descrevê-las daqui a 10, 20 anos... Naturalmente ainda não podemos construir essa tecnologia já que não possuímos o hardware necessário. Mas podemos descrever como elas serão.
    
            A primeira metade do século XXI apresentará avanços notáveis em três campos: genética, nanotecnologia e robótica. A chamada Revolução GNR. Estes três campos se desenvolverão paralelamente e irão se alimentar mutuamente. É esta a revolução que nos permitirá alcançar a Singularidade.

Revolução GNR: Genética
            Em cada uma de nossas trilhões de células o DNA se faz presente. Este nada mais é do que um código de programa. Seus comandos orientam as diferentes células a executar diferentes funções, construindo assim todo o nosso corpo.
            Mas este programa tem um problema: foi escrito há milhares de anos atrás. Já podemos ver claramente que ele está defasado e precisa de atualizações, ao menos já vemos que poderíamos otimizá-lo sensivelmente.
A biologia necessita de milhares, mesmo milhões de anos, para traçar seu caminho evolutivo. Mas já superamos esse estágio. Não estamos mais na fase biológica da evolução, estamos na fase tecnológica. Nossas necessidades, o padrão de vida que alcançamos, as possibilidades que estão se abrindo... Necessitamos reprogramar a nossa genética para nos adequar. A biologia nada mais é do que um processo de informação
Pensem na insulina. O seu gene receptor de insulina de gordura diz: “Segure todas as calorias que puder porque a próxima época de caça poderá não ser tão boa assim.” Esta era realmente uma boa ideia há milhares de anos trás. Mas vendo a epidemia de obesidade hoje, preferiríamos ajustar este gene. Quando este gene é desligado em ratos diabéticos, eles recebem insulina e permanecem magros, não ficam mais diabéticos, não tem doenças de coração, vivem 20% mais. Algumas empresas farmacêuticas já estão apressadas em trazer ao mercado inibidores do gene receptor de insulina de gordura. Creio que terão amplo sucesso.
Todas as maravilhas e desgraças da vida são processos de informação, essencialmente programas de software surpreendentemente compactos. Todo o genoma humano é uma sequência binária contendo apenas 800 milhões de bytes de informação. Se removermos toda a redundância usando técnicas convencionais de compressão, restam apenas de 30 a 100 milhões de bytes, o equivalente a um programa médio atual. Este código é suportado por nossas máquinas bioquímicas que transformam este código unidimensional em simples blocos bidimensionais chamados de aminoácidos. Estes por sua vez se transformam em nossas tridimensionais proteínas, base de todas as criaturas vivas.
O que poderemos fazer com nossa reprogramação genética? Poderemos ter terapias celulares, reverter doenças degenerativas, combater doenças de coração, mutações de DNA,  poderemos deter e mesmo reverter o nosso envelhecimento.
A imortalidade já existe na natureza. A vida da Turritopsis dohrnii, uma espécie de água-viva, só termina caso ela sofra um acidente grave. Suas células se mantêm em um ciclo de renovação indefinidamente, como se voltassem à infância. Podem aprender qualquer função de que o corpo precise. É uma verdadeira (e útil) mágica evolutiva. Parecida com a do Sebates aleutianus, um peixe do Pacífico, e de duas espécies de tartaruga, a Emydoidea blandingii e a Chrysemys picta (ambas da América do Norte). Esse segundo grupo tem o chamado "envelhecimento desprezível". Suas células ficam sempre jovens, por motivos que estamos prestes a descobrir.
O envelhecimento na verdade é um conjunto de fatores genéticos que, como podemos ver em algumas outras espécies, pode ser superado. Devemos apenas entender profundamente como nossa biologia opera. E estamos entendendo cada vez mais devido ao nosso crescimento tecnológico exponencial. Poderemos nas próximas décadas ampliar nossa longevidade cada vez mais, podemos resolver nossas problemáticas genéticas e ajustar nossas necessidades. Poderemos otimizar nosso DNA.

No próximo post, veremos um pouco sobre a revolução que iremos experimentar na nanotecnologia.

domingo, 8 de janeiro de 2012

O que é Singularidade?

A inteligência artificial está cada vez mais presente ao nosso redor. Enviamos e-mails, utilizamos cartões de crédito, possuímos sistemas de localização por satélites... Poderíamos citar uma infinidade de tarefas hoje realizadas por computadores que antes somente humanos poderiam realizar.
Mas na verdade a inteligência artificial ainda é algo ainda bastante limitado. Costumamos pensar em nossas máquinas como avançadas em relação a nós. Em parte isto é verdade. Enquanto mal conseguimos nos lembrar de alguns telefones e datas, elas possuem um armazenamento ilimitado em comparação a nós, podem através da Internet ter acesso a todo o conhecimento humano. Mas o seu poder de computação é na verdade bem inferior em relação ao cérebro humano.
Costumamos pensar em nossas emoções como algo inferior. Muitas correntes filosóficas vêem nossos sentimentos e emoções como fragilidades, obstáculos a um crescimento maior do espírito. Mas é justamente este diferencial que torna o ser humano único.
Possuímos uma sutileza única em nossa inteligência. Uma sutileza que nos permite um reconhecimento de padrões, tomadas de decisões e autonomia que nos torna seres conscientes e capazes de construir conhecimento próprio. Possuímos um potente hardware: o cérebro humano. E sobre ele roda um fantástico software que não possui equivalentes no mundo em termos de complexidade e refinamento: a nossa consciência.   
Um computador padrão de hoje, ou seja, um computador de U$1000, possui uma capacidade por volta de 1010 cálculos por segundo. Isto equivale ao poder computacional do cérebro de um rato. Mas enquanto nossa parte biológica permanece fixa, a computação cresce a um nível exponencial. E em 2029 não haverá mais esta distinção, um computador terá todo o nível de alcance da inteligência humana.
Teremos então uma combinação poderosa e única, poderemos combinar nosso reconhecimento de padrões e sutileza com as capacidades que as máquinas possuem. Este será o precursor da maior mudança de paradigma da história da humanidade. A partir deste momento, as máquinas poderão se tornar conscientes, compartilhar instantaneamente seu conhecimento. Terão acesso ao seu próprio design e serão capazes de se aperfeiçoar a um nível de rapidez cada vez mais incrível. A inteligência não biológica crescerá de tal forma que seremos incapazes de segui-la, a menos que sejamos capazes de nos fundir com a tecnologia que criamos.
Em 2045 chegaremos ao momento em que haverá esta profunda cisão e transformação na capacidade humana. A inteligência não biológica criada neste ano será 1 bilhão de vezes mais poderosa do que a inteligência de toda a humanidade hoje. É por isso que chamamos este evento de Singularidade Tecnológica.
Singularidade é um termo matemático que exprime uma mudança brusca e repentina em um modelo. Deixamos de ter transições suaves e o modelo efetivamente se quebra. Como em um buraco negro, onde há uma quebra no modelo espaço-tempo e nós simplesmente não podemos ver o horizonte de eventos por detrás dele. Assim também temos a Singularidade Tecnológica. As transformações serão tão profundas, seus efeitos tão radicais, que não podemos ter dimensão da transformação que iremos enfrentar. Transcenderemos tudo o que conhecemos hoje, teremos possibilidades (e também riscos) que sequer podemos imaginar. Um mundo completamente novo se abrirá e todos os conceitos humanos serão profundamente transformados.
No próximo post veremos quais conseqüências este desenvolvimento trará nas próximas décadas e como poderemos entender e recriar a capacidade computacional do nosso cérebro.