segunda-feira, 7 de maio de 2012

A Singularidade

                 Há 500 anos atrás muita pouca coisa acontecia em um século. Hoje muita coisa acontece em apenas 6 meses. Não é difícil perceber que nossas mudanças se dão a um ritmo cada vez mais acelerado. Pense em todo o progresso alcançado dentro de 1 ano há 10 anos e compare com o progresso alcançado dentro deste mesmo 1 ano só que atualmente.
                Isto se deve ao fato de que nossa tecnologia cresce a um ritmo exponencial. Cada geração de tecnologia cresce exponencialmente em capacidade e a velocidade deste processo se acelera ao longo do tempo. Sempre usamos tecnologia inventada para criar a próxima tecnologia. Portanto, o ritmo da tecnologia acelerou. Crescendo a um nível cada vez maior, a mudança ficará ainda mais rápida nas próximas décadas.
                Esta é a chave fundamental para a compreensão do caminho evolutivo que estamos traçando. Seguindo este crescimento, chegaremos a um momento em que as mudanças serão tão rápidas, seus efeitos tão profundos, que todos os aspectos da vida humana serão irreversivelmente transformados. A este ponto chamamos Singularidade Tecnológica.
           A Singularidade possui diversos significados, pode ser entendida de diversas maneiras de acordo com nosso ponto de vista. Mas essencialmente ela representa uma explosão de conhecimento. A curva do desenvolvimento tecnológico se acentua cada vez mais exponencialmente, chegando a um momento em que ela, pelo menos sob o nosso ponto de vista humano (da maneira como compreendemos o ser humano hoje), se torna virtualmente vertical, tendendo ao infinito. E esta explosão não será alcançada através da nossa inteligência biológica que sempre permanece fixa ao longo do tempo. Ela será alcançada justamente pela tecnologia que estamos criando, por nossa inteligência artificial cada vez mais poderosa.
A inteligência artificial está cada vez mais presente ao nosso redor. Enviamos e-mails, utilizamos cartões de crédito, possuímos sistemas de localização por satélites... Poderíamos citar uma infinidade de tarefas hoje realizadas por computadores que antes somente humanos poderiam realizar. Mas na verdade a inteligência artificial ainda é algo ainda bastante limitado.        
Costumamos pensar em nossas máquinas como avançadas em relação a nós. Em parte isto é verdade. Enquanto mal conseguimos nos lembrar de alguns telefones e datas, eles possuem um armazenamento ilimitado em comparação a nós, podem através da Internet ter acesso a todo o conhecimento humano. Mas o seu poder de computação é na verdade bem inferior em relação ao cérebro humano.
Nós não temos um método de verificar a consciência de uma entidade, a consciência é algo subjetivo que não pode ser provado. Mas pense em um personagem de um jogo de computador. Quando ele diz a você que está zangado ou triste, nós não acreditamos nele porque ele não tem todos os sinais sutis que associamos à inteligência humana. Precisamos começar por entender que os neurônios são máquinas, eles podem ser copiados por uma máquina e já fizemos isso. E se um neurônio é uma máquina, 100 bilhões deles, que são o cérebro, são uma máquina complexa. As máquinas não irão apenas resolver problemas de lógica ou produzir conhecimento como fazem hoje. Na verdade, elas já nos superam em problemas matemáticos e de lógica. Mas elas terão inteligência emocional. Essa é a coisa mais impressionante que fazemos, na verdade. A inteligência emocional, como ser divertido, entender uma piada, expressar um sentimento, é a parte mais sofisticada da inteligência humana, é a coisa mais impressionante e sofisticada que fazemos.
Mas enquanto nossa capacidade biológica permanece fixa, as máquinas crescem a um ritmo exponencial e esta taxa também aumenta cada vez mais. Então quando as máquinas da década de 2030 ficarem irritadas, você vai acreditar nelas porque elas mostrarão todos os sinais sutis e a complexidade da inteligência humana.
Podemos fazer uma lista de 100 softwares que fazem, em nível humano, coisas que antes exigiam inteligência humana. Mas isto ainda é algo limitado. Mas em 2029 não será mais, terá todo o alcance da inteligência humana. Com o crescimento do nosso poder computacional e nossa capacidade igualmente crescente de entender o cérebro humano, seremos capazes através da engenharia reversa dos princípios de operação do nosso cérebro de recriar completamente nossa inteligência.
Esta será uma combinação muito poderosa, porque poderemos combinar a sutileza e o poder de reconhecimento de padrões da inteligência humana com as capacidades que as máquinas já tem, maiores que as humanas. Elas podem se lembrar de bilhões de coisas, ter acesso a todo o conhecimento humano. A parte artificial da civilização humano-máquina crescerá exponencialmente, sua capacidade é duplicada a cada ano e essa taxa também fica cada vez mais rápida. A parte biológica permanece fixa. Mas não teremos humanos aqui e máquinas ali. Será realmente uma só civilização. As máquinas sempre foram parte do que somos, são uma extensão de nós. Desde que pegamos um graveto para chegar a um ramo mais alto, as ferramentas são extensões das nossas capacidades. Antes era um alcance físico, hoje já é um alcance mental. Hoje as máquinas estão ao meu redor. Aquele computador que há 40 anos era do tamanho de um prédio hoje cabe no meu bolso. Daqui a 25 anos, ele será do tamanho de uma célula. Estará presente em meu cérebro, no meu sangue. Em 2045 a parte artificial da inteligência da civilização humano-máquina será 1 bilhão de vezes mais poderosa do que a parte biológica. Isso é uma transformação tão profunda que chamamos de Singularidade.
Se queremos seguir este caminho evolutivo, se queremos dar seguimento à nossa civilização, devemos nos fundir com nossa tecnologia. Apenas nos tornando mais inteligentes podemos acompanhar este crescimento. Não se trata de uma opção, trata-se de uma necessidade. Então possibilidades hoje sequer sonhadas se abrirão.
Seremos capazes de reproduzir o sofisticado software que chamamos de consciência humana. Poderemos fazer um backup de nossa consciência, armazenar nossas emoções, memórias, habilidades, enfim, todo o conjunto que forma a nossa consciência e transferi-la para um computador. Criaremos corpos sob medida, corpos robóticos construídos a partir de nanorobôs, efetuando o mesmo papel de nossas células só que de forma mais precisa e eficiente. A nanotecnologia nos permitirá reconstruir o mundo, deter todas as doenças, deter o envelhecimento. Seremos 99% robótica e não biologia. Na metade da década de 2020, viveremos em mundos completamente virtuais, passaremos mais tempo neles do que nesta realidade de hoje. Seremos imortais, capazes de viver indefinidamente e estaremos mais perto da ideia que fazemos hoje de Deus.
Seremos bilhões e bilhões de vezes mais inteligentes. E estes são claramente os meus objetivos: vencer a morte, transcender minha essência humana a algo mais refinado, me tornar um novo paradigma evolutivo ao me fundir com nossas máquinas. Quero trazer os mortos de volta. Quero seguir o caminho de evolução do universo em direção à complexidade da informação e da inteligência. Então se você me fizer a pergunta, Deus existe? Eu responderia: Provavelmente não, mas nós iremos criá-lo.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

A Versão em Bronze do Homem

- Ah, não, tio! Mas eu estive pensando... por que o homem precisa morrer, afinal?
O inventor franziu o cenho.
- É assim que é, rapaz. Tudo morre, com exceção dos deuses.
- Mas por quê? – insistiu o garoto. – Se pudéssemos capturar a animus, a alma em outra forma... Bem, o senhor me falou sobre seus autômatos, tio. Touros, águias, dragões, cavalos de bronze. Por que não a versão em bronze do homem? 
- Não, meu garoto – replicou Dédalo asperamente. – Você é ingênuo. Tal feito é impossível.
- Eu não acho – insistiu Perdiz. – Com o uso de um pouco de magia...
- Magia? Ora!
- Sim, tio! Magia e mecânica, juntas... Com um pouco de trabalho seria possível criar um corpo que pareceria humano, só que melhor. Fiz algumas anotações.
(Percy Jackson – A Batalha do Labirinto)


            Este é apenas um trecho de um livro juvenil, mas nenhum outro texto poderia me fascinar mais. Em nenhum outro lugar poderia encontrar palavras que pudessem me motivar e exprimir meus desejos com tanta força. Afinal, o que é a tecnologia senão magia? A tecnologia é a única forma que temos para resolver nossos problemas. É o que nos faz tornar possível o impossível. Tecnologia é juntar coisas e criar efeitos transcendentais. É moldar o mundo à nossa volta de acordo com nossos modelos abstratos.
            Então o que eu espero com a tecnologia? O que eu estou disposto a alcançar? A versão em bronze do homem? Vencer a morte? Sim.
            Já discutimos nos posts anteriores o que poderemos alcançar com a genética e a nanotecnologia. Alterar nosso código-fonte, reescrever nossa engenharia. Substituir nossas células por nanorobôs mais eficazes, rápidos e específicos. Mas este é apenas o prelúdio do que está por vir.
            Ao fim da primeira metade do século XXI, chegaremos ao momento pelo qual mais anseio: o momento em que poderei vencer a morte.
            A minha consciência é um intrincado software rodando em um hardware chamado cérebro. Trilhões de conexões interneurais rodando paralelamente me permitem um refinado reconhecimento de padrões, uma sutileza de raciocínio que me permite ser autoconsciente e produzir conhecimento.
            A resolução do escaneamento cerebral dobra a cada ano atualmente. Estamos começando a obter as ferramentas suficientes para começar seriamente com a engenharia reversa dos princípios de operação do nosso cérebro. Já possuímos atualmente expressivos modelos e simulações de algumas poucas centenas de regiões cerebrais. Dentro de duas décadas, teremos um detalhado entendimento de como toda a nossa mente funciona. Com nosso poder computacional crescendo exponencialmente, teremos ambos, software e hardware, necessários para emular completamente a inteligência humana. Nossos computadores alcançarão um padrão indistinguível da nossa inteligência biológica na metade dos anos 2020. Teremos então a habilidade de combinar nossa formidável habilidade de reconhecimento de padrões e sutileza de raciocínio com a força dos computadores: a capacidade de lembrar bilhões de fatos precisamente e chamá-los instantaneamente. A capacidade de dominar uma habilidade e repeti-la com grande acurácia. Mais importante – as máquinas podem compartilhar seu conhecimento a velocidades extremamente altas.
            Mas afinal do que eu estou falando com essa fusão? Estou falando em alterar irremediavelmente a essência humana. Isto é o que eu quero. Me fundir com as máquinas e transformar irreversivelmente o que sou. Estou falando em expandir minhas capacidades. Substituir minhas lentas conexões interneurais baseadas em impulsos elétricos por circuitos digitais baseados em velocidades de escala nano. Não estou falando em me tornar um homem inteligente. Estou falando em superar e transcender tudo o que pode ser sequer imaginado pela humanidade. Estou falando em diluir minha parte biológica em uma forte inteligência artificial. Me tornar uma máquina capaz de se automelhorar, de se autoreparar. Uma máquina que assim como os computadores atuais cresça exponencialmente em poder de processamento. Esta é a versão do homem em bronze. Esta é a minha versão 2.0.
            Chegarei ao momento onde poderei reunir tudo o que compõe minha consciência: fatos, memórias, habilidades e poderei fazer o upload da minha consciência a um computador. Chegarei ao momento onde me tornarei capaz de viver indefinidamente. Finalmente poderei capturar a animus do homem, só que de uma outra forma assim como Perdiz sonhou.
            Estou absolutamente convicto de que este é o destino da humanidade porque este é o destino do universo: um caminho em direção à evolução da inteligência e da informação.      
            Este é o caminho inevitável. Estes são meus objetivos: eu quero vencer a morte, quero transcender toda a inteligência imaginável, quero trazer os mortos de volta. Impossível? Tudo o que hoje é óbvio foi um dia impossível até a tecnologia seguir seu rumo. Esta é a magia do universo.

domingo, 25 de março de 2012

A Morte

Nós somos a única espécie capaz de produzir conhecimento neste planeta. E é justamente este o fenômeno que sempre nos permitiu questionar o mundo à nossa volta. Mas apesar de todas as nossas tentativas de dar significado e propósito à nossa existência, o mesmo pano se levanta dolorosamente ante nossos olhos: a morte.
Por milhares de anos a humanidade tentou racionalizar a morte. Filosofias bastante elaboradas foram desenvolvidas na tentativa de dar algum significado positivo a este acontecimento. Uma transição a um estágio mais evoluído, uma vitória, a conclusão de uma etapa de uma jornada maior e mais significativa... Sempre buscamos aliviar nosso sofrimento nos escondendo da morte. Negando-a. Dissimulando, evitando encarar a sua existência.
Todos os nossos corpos biológicos são limitados. E, de um jeito ou de outro, nós temos que lidar com nossas limitações. Mas não há nada de bom ou nobre nas doenças e na morte.  No passado não havia alternativa a não ser tentar racionalizar – “Esta tragédia é na realidade uma coisa boa”, muitos dizem. Mas a morte é uma profunda tragédia. A morte é uma dolorosa vergonha, nosso fim, nossa derrota mais humilhante, a morte é a dissipação da dádiva mais maravilhosa que há no universo: a consciência. É uma perda enorme em termos de relações, de conhecimento, de habilidades e de sentido.
Algumas pessoas articulam: “nós temos que aceitar a morte, esse é o objetivo da vida”. E ficam confortáveis com isso, se conformam com a ideia. Eu não me conformo. Eu simplesmente não posso me conformar. Não posso aceitar a morte como algo bom, eu não posso olhar para o meu derradeiro destino e acreditar que a extinção da minha consciência seja uma coisa boa, não posso internalizar positivamente a minha morte.
Por muitas noites, em quase todas as noites, eu perco meu sono ao pensar no fim da minha existência. Chego às portas da loucura e caminho alguns passos dentro dela ao imaginar que em qualquer momento, da forma mais inesperada ou óbvia, eu posso morrer e simplesmente deixar de existir, sem mesmo tomar consciência deste momento. No momento em que consigo voltar, eu olho ao meu redor e tento entender como as pessoas podem se conformar com tamanha complacência o seu fim eterno e irreversível.
A tragédia da doença e da morte tem de ser vivenciada pessoalmente para realmente avaliarmos o seu significado. Perder alguém que você ama é intolerável. É razão suficiente para trazer alguém de volta. As pessoas estão matando a si mesmas quando dizem que estão confortáveis com a morte. Elas se renderam à morte. Penso que estão se enganando. No passado não havia alternativa, não havia escolha. Mas não podemos continuar com este pensamento, não podemos seguir nos rendendo. Não agora que podemos vislumbrar as incríveis possibilidades que a tecnologia nos abre. Não agora que finalmente começamos a alcançar taxas efetivas de crescimento exponencial. Agora conhecemos o rumo que estamos seguindo, agora podemos trabalhar já enxergando o que está por vir no horizonte. Não podemos nos limitar ao passado, precisamos viver o futuro que chega.
Então eu me dei conta de que esta missão de não morrer é realmente a escolha certa. Não é garantido que eu conseguirei. Não sou imune a tudo o que possa me acontecer. Mas se eu fosse um apostador, apostaria que conseguirei chegar ao momento em que poderei me aprimorar e obter proteção antes do “apagar das luzes”.
As implicações destas ideias tem ressonância com algumas ideias religiosas tradicionais. A ideia de uma profunda transformação no futuro, vida eterna, trazer de volta os mortos. O fato de usar tecnologia para atingir estes objetivos, que são comuns a todas as filosofias humanas não é mera coincidência porque esses são os objetivos da humanidade. Agora estamos ganhando mais ferramentas para atingir estes objetivos. Eu quero viver eternamente, eu creio que posso alcançar isto. Eu me manterei o mais firme possível e dedicarei as próximas décadas a este objetivo, até que o momento enfim chegue.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Revolução GNR: Robótica

Destas revoluções que iremos experimentar, a robótica é sem dúvidas a mais profunda. A genética e a nanotecnologia nos trarão possibilidades incríveis ao nos aprimorar, é verdade. Mas, filosoficamente falando, nada se compara com a radical revolução da robótica.
O futuro será mais fantástico do que qualquer coisa que já tenha sido imaginada. A limitação da inteligência artificial é cada vez menor. A fonte de como criar sistemas mais inteligentes virá do nosso próprio cérebro. Descobrimos como olhar o cérebro mesmo através do crânio. A resolução de nossos scanners duplica todos os anos. A quantidade de dados que conseguimos duplica todos os anos. Estamos aprendendo que podemos usar estes dados para criar modelos funcionais e simulações de regiões do cérebro. Neste ritmo exponencial, iremos compreender como nosso cérebro funciona em 20 anos. Compreendendo como a inteligência funciona, seremos capazes de criar sistemas similares que trabalhem tão bem, aliás, melhor que o cérebro humano. Os computadores de hoje já conseguem fazer coisas que não conseguimos. Pegue estas vantagens das máquinas e junte-as com o poder de reconhecimento de padrões, inteligência emocional que temos. Esta será uma combinação muito poderosa. E estas inteligências artificiais irão continuar a expandir-se exponencialmente. Nossos cérebros biológicos são constantes.


Kevin Warwick é um renomado cientista no campo da cibernética. Ele se tornou bastante conhecido pelas experiências de implante que conduziu em si mesmo. A mais séria foi um conjunto de 100 eletrodos implantados nos nervos medianos do seu braço esquerdo. Então, fios saíam do seu braço para um pequeno bloco conector e, assim, era possível conectá-lo.  Após a cirurgia, Warwick foi para Nova Iorque e plugou o seu sistema nervoso na internet em tempo real. Foi estabelecida uma conexão com um robô que ainda estava na Inglaterra. Então, quando a mão robótica tocava um objeto, o seu cérebro recebia impulsos elétricos.
Quando os cirurgiões retiraram o implante, perceberam que o tecido corporal à volta do implante tinha crescido, colocando-o em posição. Muito rapidamente, mentalmente e fisicamente, torna-se parte de você. Quando você ligar o cérebro humano a uma rede de computadores, não só você poderá melhorar a comunicação sensorial como poderá pensar em muito mais dimensões entre outras vantagens. Enquanto humanos, somos bastante limitados no que podemos fazer, podemos aumentar esta capacidade sensivelmente.
Memórias flash que poderemos ligar ao nosso cérebro, liga-lo a programas de cálculo e estatística, pesquisar no Google diretamente do nosso lobo frontal... Haverá muitas expansões para a mente, através da interação entre cérebro humano e tecnologia. A questão é: Quão longe você pode ir e ainda ser humano?
À medida que nos fundimos com as máquinas, e nós iremos, é inevitável, vamos nos transformar em algo novo. À medida que a tecnologia se torna vastamente superior ao que nós somos, a pequena dimensão que ainda é humana vai tornando-se menor e menor, até que se torne insignificante.
Qualquer um que venha a resistir a este progresso, estará resistindo à evolução e, fundamentalmente, acabará por se extinguir. A questão não é ser bom ou mau. Irá acontecer.

Quais radicais implicações podemos enxergar nesta fusão? Discutiremos no próximo post.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Revolução GNR: Nanotecnologia

A biologia é realmente impressionante. Bastante intrincada e inteligente, ela possui uma refinada complexidade que nos permitiu chegar até aqui. Mas ela é bem inferior, se comparada em última análise com o que seremos capazes de construir com a nanotecnologia.
                Pense nos primeiros computadores: grandes, caros, ocupavam prédios inteiros e se comparados aos de hoje não possuíam lá grande poder computacional. Mas esta história nós já conhecemos: A tecnologia cresce a um ritmo exponencial. Os computadores dobram a sua capacidade pelo mesmo preço todos os anos. Experimentaremos um novo crescimento de 1 bilhão em preço/performance nos próximos 25 anos e o tamanho será novamente reduzido em 100 mil vezes. Aquele computador do tamanho de um prédio agora cabe no seu bolso. Isso levou 40 anos. Daqui mais 25 anos, esse computador de bolso será do tamanho de uma célula sanguínea.
                A noção que temos sobre computadores será desta forma alterada. Eles não serão mais aqueles aparelhos retangulares e distantes, eles estarão profundamente integrados ao nosso corpo, nos auxiliando, nos tornando melhores. A nanotecnologia de forma simplificada é o estudo que permite manipular a matéria em uma escala atômica e molecular. E nós já estamos construindo agora dispositivos à escala nano.
                Nós estamos cada vez mais próximos dos glóbulos vermelhos robóticos. Análises demonstram que substituindo uma porção dos nossos globos naturais por estas versões robóticas, poderíamos fazer uma corrida olímpica por 15 minutos sem respirar ou sentar no fundo de uma piscina durante 4 horas.

                Seremos capazes de descarregar software contra agentes patogênicos específicos. Inclusive aqueles que nunca foram vistos. Não seremos mais alvos de doenças auto-imunes. Estes nanorrobôs terão o tamanho de células ou mesmo menores. Experimentos conduzidos atualmente na Rice University nos EUA levam pequenas cápsulas pela corrente sanguínea até as células cancerígenas , liberando remédio sem afetar células sadias.
                Percorrendo toda nossa corrente sanguínea, limparão nossas artérias muito antes delas entupirem. Destruirão vírus, bactérias, células cancerígenas muito antes de qualquer dano. Poderão reparar até mesmo as células cerebrais. Na verdade, até mesmo melhorá-las. Nossos neurônios são baseados em impulsos elétricos, um recurso não muito eficiente se comparado ao que podemos experimentar na tecnologia atual. 
                Daqui a duas décadas, estes nanorrobôs farão até mesmo as funções que nossas células e tecidos fazem, mas com uma precisão infinitamente maior. E se olharmos para o que será, em princípio, possível com a nanotecnologia, nós poderemos ir muito mais além das limitações dos nossos corpos “versão 1.0”.

No próximo post veremos um pouco do que poderemos alcançar com a robótica.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Revolução GNR: Genética

Movida pela sua curiosidade, a humanidade sempre tentou prever como seria o seu destino. É bem verdade que muitas destas previsões se transformaram em simples devaneios ou poderiam soar hoje até mesmo como delírios. Mas isto não significa que não podemos estabelecer com certa segurança como determinados parâmetros irão se desenvolver. Temos hoje ferramentas de grande alcance na coleta de dados e informações. Podemos assim descrever o comportamento do avanço tecnológico de forma mais completa que nunca e fazer prognósticos efetivamente realistas.         
            Hoje podemos compreender a natureza exponencial da tecnologia. Assim, é possível descrever como serão essas tecnologias não em apenas 1 ou 2 anos. É possível descrevê-las daqui a 10, 20 anos... Naturalmente ainda não podemos construir essa tecnologia já que não possuímos o hardware necessário. Mas podemos descrever como elas serão.
    
            A primeira metade do século XXI apresentará avanços notáveis em três campos: genética, nanotecnologia e robótica. A chamada Revolução GNR. Estes três campos se desenvolverão paralelamente e irão se alimentar mutuamente. É esta a revolução que nos permitirá alcançar a Singularidade.

Revolução GNR: Genética
            Em cada uma de nossas trilhões de células o DNA se faz presente. Este nada mais é do que um código de programa. Seus comandos orientam as diferentes células a executar diferentes funções, construindo assim todo o nosso corpo.
            Mas este programa tem um problema: foi escrito há milhares de anos atrás. Já podemos ver claramente que ele está defasado e precisa de atualizações, ao menos já vemos que poderíamos otimizá-lo sensivelmente.
A biologia necessita de milhares, mesmo milhões de anos, para traçar seu caminho evolutivo. Mas já superamos esse estágio. Não estamos mais na fase biológica da evolução, estamos na fase tecnológica. Nossas necessidades, o padrão de vida que alcançamos, as possibilidades que estão se abrindo... Necessitamos reprogramar a nossa genética para nos adequar. A biologia nada mais é do que um processo de informação
Pensem na insulina. O seu gene receptor de insulina de gordura diz: “Segure todas as calorias que puder porque a próxima época de caça poderá não ser tão boa assim.” Esta era realmente uma boa ideia há milhares de anos trás. Mas vendo a epidemia de obesidade hoje, preferiríamos ajustar este gene. Quando este gene é desligado em ratos diabéticos, eles recebem insulina e permanecem magros, não ficam mais diabéticos, não tem doenças de coração, vivem 20% mais. Algumas empresas farmacêuticas já estão apressadas em trazer ao mercado inibidores do gene receptor de insulina de gordura. Creio que terão amplo sucesso.
Todas as maravilhas e desgraças da vida são processos de informação, essencialmente programas de software surpreendentemente compactos. Todo o genoma humano é uma sequência binária contendo apenas 800 milhões de bytes de informação. Se removermos toda a redundância usando técnicas convencionais de compressão, restam apenas de 30 a 100 milhões de bytes, o equivalente a um programa médio atual. Este código é suportado por nossas máquinas bioquímicas que transformam este código unidimensional em simples blocos bidimensionais chamados de aminoácidos. Estes por sua vez se transformam em nossas tridimensionais proteínas, base de todas as criaturas vivas.
O que poderemos fazer com nossa reprogramação genética? Poderemos ter terapias celulares, reverter doenças degenerativas, combater doenças de coração, mutações de DNA,  poderemos deter e mesmo reverter o nosso envelhecimento.
A imortalidade já existe na natureza. A vida da Turritopsis dohrnii, uma espécie de água-viva, só termina caso ela sofra um acidente grave. Suas células se mantêm em um ciclo de renovação indefinidamente, como se voltassem à infância. Podem aprender qualquer função de que o corpo precise. É uma verdadeira (e útil) mágica evolutiva. Parecida com a do Sebates aleutianus, um peixe do Pacífico, e de duas espécies de tartaruga, a Emydoidea blandingii e a Chrysemys picta (ambas da América do Norte). Esse segundo grupo tem o chamado "envelhecimento desprezível". Suas células ficam sempre jovens, por motivos que estamos prestes a descobrir.
O envelhecimento na verdade é um conjunto de fatores genéticos que, como podemos ver em algumas outras espécies, pode ser superado. Devemos apenas entender profundamente como nossa biologia opera. E estamos entendendo cada vez mais devido ao nosso crescimento tecnológico exponencial. Poderemos nas próximas décadas ampliar nossa longevidade cada vez mais, podemos resolver nossas problemáticas genéticas e ajustar nossas necessidades. Poderemos otimizar nosso DNA.

No próximo post, veremos um pouco sobre a revolução que iremos experimentar na nanotecnologia.

domingo, 8 de janeiro de 2012

O que é Singularidade?

A inteligência artificial está cada vez mais presente ao nosso redor. Enviamos e-mails, utilizamos cartões de crédito, possuímos sistemas de localização por satélites... Poderíamos citar uma infinidade de tarefas hoje realizadas por computadores que antes somente humanos poderiam realizar.
Mas na verdade a inteligência artificial ainda é algo ainda bastante limitado. Costumamos pensar em nossas máquinas como avançadas em relação a nós. Em parte isto é verdade. Enquanto mal conseguimos nos lembrar de alguns telefones e datas, elas possuem um armazenamento ilimitado em comparação a nós, podem através da Internet ter acesso a todo o conhecimento humano. Mas o seu poder de computação é na verdade bem inferior em relação ao cérebro humano.
Costumamos pensar em nossas emoções como algo inferior. Muitas correntes filosóficas vêem nossos sentimentos e emoções como fragilidades, obstáculos a um crescimento maior do espírito. Mas é justamente este diferencial que torna o ser humano único.
Possuímos uma sutileza única em nossa inteligência. Uma sutileza que nos permite um reconhecimento de padrões, tomadas de decisões e autonomia que nos torna seres conscientes e capazes de construir conhecimento próprio. Possuímos um potente hardware: o cérebro humano. E sobre ele roda um fantástico software que não possui equivalentes no mundo em termos de complexidade e refinamento: a nossa consciência.   
Um computador padrão de hoje, ou seja, um computador de U$1000, possui uma capacidade por volta de 1010 cálculos por segundo. Isto equivale ao poder computacional do cérebro de um rato. Mas enquanto nossa parte biológica permanece fixa, a computação cresce a um nível exponencial. E em 2029 não haverá mais esta distinção, um computador terá todo o nível de alcance da inteligência humana.
Teremos então uma combinação poderosa e única, poderemos combinar nosso reconhecimento de padrões e sutileza com as capacidades que as máquinas possuem. Este será o precursor da maior mudança de paradigma da história da humanidade. A partir deste momento, as máquinas poderão se tornar conscientes, compartilhar instantaneamente seu conhecimento. Terão acesso ao seu próprio design e serão capazes de se aperfeiçoar a um nível de rapidez cada vez mais incrível. A inteligência não biológica crescerá de tal forma que seremos incapazes de segui-la, a menos que sejamos capazes de nos fundir com a tecnologia que criamos.
Em 2045 chegaremos ao momento em que haverá esta profunda cisão e transformação na capacidade humana. A inteligência não biológica criada neste ano será 1 bilhão de vezes mais poderosa do que a inteligência de toda a humanidade hoje. É por isso que chamamos este evento de Singularidade Tecnológica.
Singularidade é um termo matemático que exprime uma mudança brusca e repentina em um modelo. Deixamos de ter transições suaves e o modelo efetivamente se quebra. Como em um buraco negro, onde há uma quebra no modelo espaço-tempo e nós simplesmente não podemos ver o horizonte de eventos por detrás dele. Assim também temos a Singularidade Tecnológica. As transformações serão tão profundas, seus efeitos tão radicais, que não podemos ter dimensão da transformação que iremos enfrentar. Transcenderemos tudo o que conhecemos hoje, teremos possibilidades (e também riscos) que sequer podemos imaginar. Um mundo completamente novo se abrirá e todos os conceitos humanos serão profundamente transformados.
No próximo post veremos quais conseqüências este desenvolvimento trará nas próximas décadas e como poderemos entender e recriar a capacidade computacional do nosso cérebro.